segunda-feira, 9 de março de 2009

Deflação?

* Escrito por João Carlos Simionato

Durante um longo período a economia brasileira sofreu com os efeitos da inflação e hoje se percebe que este mal foi superado. Pois bem, com o cenário de recessão mundial e desaceleração das economias emergentes, o temor da moda agora se chama deflação, isso mesmo, o oposto da inflação.

A deflação é quando a moeda em circulação ganha valor relativamente às mercadorias, serviços e moedas estrangeiras. Num cenário recessivo da economia mundial, empresas investem e contratam menos, o consumo é desaquecido e, para não sofrerem tanto com a queda da demanda, tendem a reduzir os preços e diminuir a produção, o que deflaciona as mercadorias no mercado.

De certo ponto de vista, no curto prazo, tal fenômeno é benéfico, pois aumenta o poder de compra da população, porém não é bem assim que as coisas funcionam. No médio e longo prazo a queda generalizada dos preços agrava o problema na economia do país.

Exemplo real

Para entender melhor como isso ocorre, vamos fazer uma comparação com o que acontece aqui no Brasil. Um cidadão qualquer compra um celular por R$ 1.000 e divide em 10 prestações fixas de R$ 100. No pagamento da última parcela visualiza seu celular na vitrine custando R$ 600. Bom, no primeiro momento ele se sente desconfortável porque podia ter esperado um pouco para comprar o produto mais barato, mas de certa forma a satisfação que ele sentiu ao adquirir com antecedência o produto minimiza seu desconforto.

O exemplo citado acima se refere a um bem supérfluo, que é o caso do aparelho celular. Mas se houver uma perspectiva de deflação em bens de maior valor agregado, a pessoa normalmente vai aguardar pelo barateamento do produto.

Aí que mora o perigo: “comprar depois porque vai estar mais barato”. Isso trava a economia como um todo, pois é o consumo que a movimenta. Aquele que não comprou porque esperou o produto baratear, agora não compra porque não tem emprego e crédito para adquirir o bem.


Com a recessão na economia americana, o desemprego aumentando continuamente, o preço das commodities despencando e a maior demanda por dólares no mercado mundial, o valor da moeda americana se eleva, colaborando para que haja queda no preço das mercadorias e também dos imóveis. E a queda no preço dos imóveis nos Estados Unidos (EUA) faz com que, num certo ponto, o valor das dívidas superem o valor do imóvel. Ou seja, a garantia que o banco tinha para se proteger da inadimplência não vale o valor do empréstimo.

O setor imobiliário dos EUA, onde se originou a crise, explica bem os problemas criados pela deflação. Mesmo o FED (Banco Central Americano) baixando a taxa de juros quase a zero e tomando algumas medidas heterodoxas - como a injeção de liquidez no sistema financeiro, por meio de compra de títulos privados - isso não foi o suficiente para afastar o mal da deflação.

Por ser um ativo líquido e seguro, o dólar é a moeda mais procurada em época de crise, o que torna difícil a tarefa do FED em produzir inflação. Mesmo com emissão monetária, não há excesso de oferta de moeda, apenas atende-se a demanda do mercado. Por não haver moeda em excesso, apesar do aumento da quantidade da mesma, não ocorre pressão inflacionária, porque com medo ninguém quer gastar o dinheiro que tem, pelo contrário, todos querem poupar o máximo.

Na linguagem da teoria quantitativa da moeda, se diz que houve um aumento da quantidade da moeda, mas esta é recompensada pela queda da velocidade de circulação, o que evita que haja elevação dos preços.

Mas a dúvida é o que vai acontecer quando esta crise passar e todas essas moedas, que antes eram estocadas, voltarem ao mercado em busca de remuneração. Onde aplicá-las? O que fazer para enxugar toda essa enxurrada de dinheiro? Aplicar no Brasil, que paga 12% a.a? Aumentar a taxa de juros do FED? Ou deixar que haja uma desvalorização acentuada do dólar e que este perca um pouco sua imagem de moeda forte, líquida e porto seguro para qualquer crise?

Para essas e outras perguntas talvez encontraremos respostas até 2010 ou 2011, se as coisas andarem conforme as previsões moderadas e otimistas. Até lá, vamos acompanhar esta crise de perto, pois ela será lembrada e estudada por muitos, por ser a crise que se originou no centro do sistema capitalista e não nas periferias, como as dos últimos anos.

2 comentários:

João Carlos Simionato disse...

Nossa !!.
Não precisava me dar o mérito, vc colaborou muito pra mim terminar o texto sábado.
E muito obrigado por divulgar meu texto no seu blog.
Abraços

Anônimo disse...

João Carlos,

O texto é seu, então nada mais justo que dar o crédito. Aproveita e divulga o blog...rs
Abraço
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Ronan Pierote